Lealdade de Zeca Pagodinho ao samba e a si mesmo salta aos olhos e ouvidos na edição em LP do álbum dos 40 anos
Zeca Pagodinho no palco do estádio carioca Engenhão em que gravou o show ora editado em LP duplo Leo Aversa / Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: Z...

Zeca Pagodinho no palco do estádio carioca Engenhão em que gravou o show ora editado em LP duplo Leo Aversa / Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: Zeca Pagodinho – 40 anos ao vivo (Edição em LP) Artista: Zeca Pagodinho Cotação: ★ ★ ★ ★ ♬ O capricho da arte gráfica da edição em LP duplo do álbum ao vivo comemorativo dos 40 anos de carreira de Zeca Pagodinho – gravado em 2024 e lançado no ano passado em edição digital, mas agora também disponível em vinil de 180 gramas – faz jus à coerência de um artista espontâneo que, sempre na dele, imprimiu assinatura forte no mundo do samba carioca sem ser levado por ondas furadas e sem aderir a modismos mercadológicos. Capa da edição em LP duplo do álbum ‘Zeca Pagodinho – 40 anos ao vivo’, de Zeca Pagodinho Divulgação / Universal Music Zeca foi revelado em 1983 por Beth Carvalho (1946 – 2019), cantora que gravou samba dele – Camarão que dorme a onda leva, em parceria com Arlindo Cruz e Beto Sem Braço (1940 – 1993) – com a participação do próprio Zeca, partideiro então escondido debaixo das míticas tamarineiras da quadra do bloco do Cacique de Ramos, QG dos bambas dos quintais em que brotava o melhor pagode do Rio de Janeiro na década de 1980. Contudo, foi em 1985 – há 40 anos – que o artista deu o pontapé inicial na carreira de cantor ao gravar cinco das 12 faixas do álbum coletivo Raça brasileira. O disco tocou muito nas rádios, mas com mais foco nas faixas das cantoras Elaine Machado e Jovelina Pérola Negra (1944 – 1998). Só que o cantor virou o jogo no ano seguinte com o primeiro álbum solo, Zeca Pagodinho (1986), blockbuster instantâneo editado no mesmo formato de LP ao qual chega o álbum Zeca Pagodinho – 40 anos ao vivo neste mês de abril de 2025. Com projeto gráfico calcado nas imagens criadas por Batman Zavareze para a cenografia do show captado em 4 de fevereiro de 2024 no Estádio Nilton Santos, popularmente conhecido como Engenhão e situado no subúrbio carioca evocado na arte do LP, a edição em vinil duplo do álbum retrospectivo de Zeca cumpre bem a função de resumir os 40 anos da discografia do artista. Estão lá os principais sucessos da fase inicial na extinta gravadora RGE (entre 1985 e 1987) e os hits inevitáveis da ressurreição do cantor na gravadora PolyGram – encampada pela Universal Music a partir de 1999 – a partir de 1995 a reboque de álbuns bem produzidos por Rildo Hora, maestro de discos fundamentais de Martinho da Vila e Beth Carvalho. No registro do show dos 40 anos, Rildo toca gaita – “japonesa”, como frisa Zeca ao chamá-lo ao palco – em Lama nas ruas (Almir Guineto e Zeca Pagodinho, 1986) em participação afetiva. Mas quem pilota a eficiente produção musical do álbum Zeca Pagodinho – 40 anos ao vivo são Paulão 7 Cordas e Pretinho da Serrinha. Para atender demandas mais de mercado do que do próprio Zeca, o show foi pontuado pelas presenças de convidados como Alcione, Diogo Nogueira, Djonga, Jorge Aragão, Iza, Marcelo D2, Seu Jorge e Xande de Pilares. As participações de todos soam naturais e estão eternizadas ao longo das 26 faixas distribuídas nos dois LPs com o registro quase integral do show, retrato fiel das escolhas artísticas de Zeca Pagodinho. Zeca Pagodinho relembra momentos da carreira antes de pausa Mesmo quando amargou período de menor visibilidade no mercado, como nos anos 1989–1993 na gravadora BMG-Ariola, marcados por álbuns em que os produtores não souberam realçar a potência do samba do artista, Zeca Pagodinho continuou fiel a si mesmo e a esse samba cultivado e colhido nos mais nobres quintais cariocas. Tal lealdade está exposta na capa do álbum Zeca Pagodinho – 40 anos ao vivo. Há na capa uma foto menor do cantor no palco do Engenhão, mas a imagem evidenciada – posto que estampada cinco vezes em sobreposição – é a do Zeca dos anos 1980, aquele partideiro tímido, mas notado por Beth Carvalho, porque se agigantava na hora de versar com verve. A capa do álbum – naturalmente amplificada na edição em LP fabricada pela Universal Music – dá o recado de forma bem clara: passados 40 anos, Zeca Pagodinho ainda é o mesmo sambista daquele início promissor em 1983.